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O prêmio Nobel da Paz de 2006, Muhammad Yunus, diz que o apoio ao empreendedorismo da população de baixa renda é a melhor forma de reduzir a pobreza no mundo.

O economista Muhammad Yunus, de 68 anos, prêmio Nobel da Paz de 2006 e fundador do Grameen Bank, de Bangladesh, maior instituição de microcrédito do mundo, não é um entusiasta de programas assistencialistas como o Bolsa Família brasileiro. Yunus até aceita que o Estado dê dinheiro aos mais pobres. Mas diz que isso deve ser apenas um meio para eles alcançarem a independência financeira. Segundo Yunus, o estímulo ao empreendedorismo, por meio da concessão de pequenos empréstimos a juros baixos para a população de baixa renda, é a melhor forma de reduzir a pobreza. Na semana passada, antes de embarcar para o Brasil para participar da ExpoManagement, um evento sobre gestão dirigido a executivos que começa na segunda-feira, ele falou com ÉPOCA. Leia os principais trechos da entrevista.
ENTREVISTA – MUHAMMAD YUNUS
Brian Smith
QUEM É?
Fundador do Grameen Bank, de Bangladesh, a maior instituição de microcrédito do mundo, e vencedor do Prêmio Nobel da Paz em 2006
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O QUE ESTUDOU?
Economista com doutorado na Universidade Vanderbilt, nos EUA
O QUE PUBLICOU?
É autor de O Banqueiro dos Pobres e Um Mundo sem Pobreza – A Empresa Social e o Futuro do Capitalismo
ÉPOCA – Qual é sua opinião sobre programas sociais como o Bolsa Família brasileiro?
Muhammad Yunus – Minha posição sobre qualquer tipo de programa assistencialista é que ele tem de ajudar as pessoas a sair dele. Não acredito que um programa que mantenha as pessoas dependentes do assistencialismo seja uma boa solução. As pessoas que estão em dificuldades precisam de ajuda – e é responsabilidade da sociedade, do governo, tirá-las dessa situação. Mas o programa deve permitir que elas possam, gradualmente, em cinco ou dez anos, tornar-se financeiramente independentes.
ÉPOCA – Que papel o microcrédito pode ter em países emergentes como o Brasil?
Yunus – Pode desempenhar um papel muito importante. No Brasil, muitas pessoas não têm acesso a qualquer instituição financeira. Por isso, não têm dinheiro na mão. E, se elas não têm dinheiro na mão, não são ninguém. Não podem fazer nada. O Brasil é uma grande economia, mas há muita gente sem trabalho que gostaria de trabalhar, muita gente criativa. Então, a oferta de serviços financeiros permitirá a essas pessoas obter empréstimos e criar o próprio negócio e a própria renda.
ÉPOCA – O microcrédito pode ser uma ferramenta importante para ajudar os mais pobres na crise?
Yunus – Acredito que sim. Como essa crise vai gerar muito desemprego, o microcrédito se torna ainda mais importante. Se pudermos oferecer a essas pessoas pequenos empréstimos, poderemos estimular o auto-emprego, para ajudá-las a sobreviver, a criar a própria economia. Elas poderão produzir, vender umas para as outras. Assim, a economia poderá continuar a funcionar para elas, para que não sejam largadas à própria sorte.
ÉPOCA – Como a crise está afetando os pagamentos de clientes de microcrédito em Bangladesh e em outros países?
Yunus – Ainda não detectamos nenhum problema. Até agora, a crise não chegou com toda a sua força a economias como Bangladesh e outros países emergentes. Mas certamente os pobres serão os mais afetados pela crise em todo o mundo. Os ricos perdem dinheiro, mas continuam ricos. Os pobres, que perderão seus negócios, seu emprego, serão os mais afetados pela desaceleração da economia global. A desaceleração já começou – e é um processo perverso. Mas, para a gente poder conhecer todo o seu impacto, ainda vai levar um bom tempo.
ÉPOCA – Em sua última visita ao Brasil, em junho, o senhor acertou com o presidente Lula a criação de um projeto de microcrédito no país. Como anda isso?
Yunus – A gente falou sobre esse projeto, mas não saiu nada de concreto até agora. Falamos de colaboração. Mas não saiu disso.
ÉPOCA – Foi acertado algum cronograma?
Yunus – Não que eu saiba.
ÉPOCA – O senhor gostaria de desenvolver um projeto assim no Brasil?
Yunus – Se formos convidados, ficaremos satisfeitos em fazê-lo.

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